O texto é longo mas cada palavra é muito bem colocada, totalmente coerente e um abraço quentinho para quem esta ou estava confusa assim como eu.
Uma amiga, que está grávida de quatro meses,
descobriu-se mãe de um menino quando pensava que seria mãe de sua
segunda menina. Surpresa está se perguntando e me perguntou: como é ser
mãe de um menino? Eu lhe respondi que é uma experiência maravilhosa. Ri
quando ela me fez a sua segunda pergunta: mais maravilhosa que ser mãe
de uma menina? Bem, aí eu não sei responder, pois não sou mãe de uma
menina (pelo menos por enquanto), mas o que eu quero dizer é que ser mãe
de um menino é diferente e pode ser tão gostoso quanto.
Essa amiga me inspirou para escrever sobre a arte, a beleza, a
delicadeza e a responsabilidade de ser mãe de um garotinho. Sou mãe de
um e simplesmente adoro. Nós brincamos juntos, saímos para passear,
assistimos DVD, viajamos, vamos ao cinema, a parques, etc. Com os
meninos podemos fazer muitas coisas legais!
O meu filho é um garoto muito sensível, com muita percepção de si e
do outro, assim como da natureza. Comento isso não para elogiar
publicamente o meu bambino, mas para exemplificar que sensibilidade,
empatia e percepção são potenciais que precisamos ajudar a desenvolver
em nossos filhos e nos meninos em especial, pois os nossos garotos
sofrem com uma educação machista e eles precisam muito de amor,
delicadeza e sensibilidade tanto quanto as nossas garotas.
É importante lembrar que num tempo não tão distante assim, nascer um
menino era uma benção e uma menina uma falta de sorte. Ainda bem que as
coisas mudaram um pouco no contexto cultural, mas, ainda hoje em alguns
países meninas podem ser vendidas, abandonadas, etc. Você deve estar se
perguntando por que estou falando sobre isso quando o tema é ser mãe de
menino? Aí é que está a questão. Ser mãe de menino é, além de tudo, uma
grande responsabilidade social, pois os meninos também estão sofrendo
com esse formato de educação permeada pela insensibilidade e
autoritarismo que damos a eles. Para termos um mundo melhor, precisamos
criar e educar filhos mais felizes, saudáveis e sensíveis diante da dor
do outro, para este último damos o nome de empatia (colocar-se no lugar
do outro). Ensinar empatia é algo fundamental e indispensável na
educação de nossos meninos.
Percebo nas mães a sensação de prazer em ser mãe de uma menina. Elas
falam do companheirismo e da amizade que as filhas podem proporcionar e
do receio em ser mãe de meninos pelo motivo contrário. Eu
particularmente conheço muitos meninos companheiros e amigos de seus
pais. Eles são assim se o educarmos para serem assim.
O que acontece é que a educação dos meninos está recheada de
preconceitos e tabus*, pois muitos pais têm medo de educar seus filhos
homens com delicadeza e sensibilidade por receio de se tornarem
femininos, delicados ou sensíveis demais, como se homens não o pudessem
ser.
Nos EUA foi feita uma pesquisa curiosa sobre como lidamos
emocionalmente diferente com meninos e meninas. A pesquisa foi feita em
uma maternidade e consistia em vestir os bebês meninos com roupa cor de
rosa e os bebês meninas com roupa azul. As pessoas que visitavam os
bebês pegavam as supostas meninas vestidas de cor de rosa, no colo e com
muita delicadeza faziam voz macia, gesto delicado, diziam frases
sensíveis para expressar carinho, etc. As pessoas que pegavam os
supostos bebês meninos vestidos de azul no colo o faziam com menos
delicadeza, pois eram meninos, a voz era mais grossa para expressar
carinho, os gestos menos delicados e a sensibilidade menos expressa. No
final de cada visita, era revelado aos visitantes o verdadeiro sexo dos
bebês, o susto era grande e a mudança de comportamento em relação aos
mesmos, visível. Essa pesquisa mostra como de fato as pessoas lidam,
educam, pensam diferente em relação aos meninos e meninas.
Muitas mães querem ter uma menina para ir às compras, ao salão de
beleza, as festas, para enfeitar com coisas legais no cabelo e corpo,
etc. Os pais querem um menino para levar para o futebol, para a natação,
oficina, etc. As meninas fazem coisas de menina com a mãe e os meninos
fazem coisa de menino com o pai, com isso a família vai se fragmentando
sutilmente e os valores ficam distorcidos em relação à educação, cultura
e amor de pais. No futuro, quando se tornam adultos, a moça não terá
muito que fazer, conversar com o pai e o rapaz não terá muito que fazer,
conversar com a mãe, não por culpa deles, mas eles aprenderam que era
assim: tudo fragmentado.
Existe algo que muitas vezes os pais esquecem: que os filhos existem
não para atenderem as nossas necessidades, mas para se tornarem
indivíduos saudáveis e cumprirem o objetivo que os trouxe à vida. Nós
pais precisamos ajudá-los nisso. É a nossa missão! Existe uma frase que
sempre digo em oração ao meu filho desde que ele estava em meu ventre
“Que você meu filho se torne um homem Honesto, Justo e Bom”. Para mim,
honestidade, justiça e bondade, são valores que precisam ser ensinados e
valorizados em nossos filhos acima de qualquer outro.
Nós como pais, precisamos refletir sobre quais valores estamos
repassando, ensinado aos nossos filhos, e acima de tudo se estamos tendo
tempo de ensinar tais valores ou se estamos delegando essa importante e
vital tarefa a alguém, pois muitas vezes preferimos ficar até tarde no
escritório enquanto alguém ensina o dever de casa ao nosso filho, ou
mesmo a tocar piano ou a jogar bola. Como bons e dedicados pais pagamos
todas as contas, mas não educamos os nossos filhos. Com isso, perdemos
fases preciosas da vida, nossa e deles, momentos valorosos onde podemos
construir afeto, união, amor e desenvolver filhos saudáveis.
Na educação de meninos, observo muitos pais tendo uma postura que
paira o descaso e chega à irresponsabilidade, permeada pelo seguinte
argumento: “É um menino, precisa aprender desde cedo a se virar sozinho e
a ser independente e forte, a ser homem. Deixa ele se virar!”
Infelizmente é esse tipo de pensamento e educação que está deixando os
nossos meninos perdidos, confusos e com conflito de identidade.
Imagine-se no lugar de um menino que em uma idade que precisa de
educação, proteção e orientação, é deixado sozinho para aprender, que
tipo de menino você se tornaria? Sensível para com a dor do outro?
Bondoso? Justo? Provavelmente não, pois esses são valores que precisam
ser ensinados por alguém. Quando estamos sós e perdidos, aprendemos com o
que está ao nosso alcance, e valores morais não estão tão acessíveis
assim no dia a dia.
Os meninos precisam de atenção tanto da mamãe quanto do papai, pois
cada um vai passar um tipo de conhecimento ao filho homem. A mãe vai lhe
ensinar sobre amor e segurança, acolhimento e sensibilidade. O pai vai
lhe transmitir interesses por atividades, competências, habilidades,
afabilidade, humor, equilíbrio, masculinidade (que é diferente de
machismo). A vida dos meninos caminha melhor quando a mãe e o pai estão
por perto educando-o. Quando um deles se ausenta de manifestar calor e
afeto, principalmente nos primeiros anos de vida, para suportar a dor e o
sofrimento, o menino “desliga” a sua parte mais terna e amorosa,
tornando-se uma criança triste ou raivosa, por exemplo.
Um dia escutei de uma mãe desconhecida em uma praça pública, uma
conversa que me pareceu absurda. Ela estava com um bebê de
aproximadamente seis meses e disse à outra pessoa que não gostava de
deixá-lo no colo por muito tempo que isso iria mimá-lo demais, que ela o
deixava no berço a maior parte do tempo para ele ir se tornando
independente dela. Penso que esta mãe não tinha a intenção de maltratar
seu filho, apesar de está-lo fazendo, mas sim que era ignorante na arte
de educar uma criança. Abraçar, beijar, cheirar, brincar, rir, criar
afeto, vínculo, demonstrar amor nunca é demais, não mima, não estraga
filho; o contrário sim!
Para termos filhos meninos ou meninas felizes e saudáveis, precisamos
demonstrar carinho, afeto, amor, dizer o quanto eles são importantes.
Vamos elogiar sua conquista por menor que pareça para nós, mas para
eles, ela deve ter sido enorme. Vamos parabenizar pela nota conquistada,
por mais que não tenha sido a desejada, e dizer: “na próxima vez você
vai se esforçar mais e vai conseguir uma nota melhor, eu tenho certeza e
acredito em você!” Vamos exigir menos e acreditar mais, incentivar
mais, cuidar mais, estar mais por perto. Eles com certeza sentem a sua
falta.
Ame, beije, abrace seus filhos não importa se eles têm cinco, dez ou quinze anos…
FONTE: http://tribunadoceara.uol.com.br/blogs/lila-rosana/sem-categoria/ser-mae-de-menino/#